11 outubro 2011
A sonda espacial da ESA Venus Express descobriu, na atmosfera de Vénus, uma camada de ozono. A comparação das diferentes propriedades desta camada, bem como das que existem na Terra e em Marte permitirá aos astrónomos refinar a buscas de bio marcadores em planetas extrasolares. A molécula de ozono, que é composta por três átomos de oxigénio, é uma das moléculas presente na atmosfera terrestre. Encontra-se na estratosfera entre os 15 e os 50 quilómetros. O ozono absorve a radiação ultravioleta mais energética proveniente do Sol, e acaba também por ser responsável pela inversão de temperatura na estratosfera da Terra. A uma altitude de 100 quilómetros a camada de ozono em Vénus é cerca de 1.000 vezes menos densa do que a terrestre. A Vénus Express conseguiu detetar esta camada de ozono com a ajuda do espectrógrafo SPICAV e através do método da ocultação estelar, que consiste na observação de uma estrela que se encontre na orla do planeta. Esta técnica permite estudar a atmosfera de Vénus de forma indireta, ao perceber a sua influência na radiação proveniente de estrelas distantes. “À medida que orbita Vénus, a linha de visão da sonda, da direção de uma dada estrela, passa pela atmosfera do planeta, o que quer dizer que a luz da estrela pode ser absorvida por essa mesma atmosfera”, afirma Jean-Loup Bertaux (LATMOS e Universidade de Versailles-Saint-Quentin, França), coautor do artigo que descreve esta descoberta. “Neste processo, determinadas espécies químicas presentes na atmosfera deixam as suas assinaturas características no espectro da estrela, o que permite a sua identificação”, acrescenta. O ozono detetado em Vénus parece estar localizado a altitudes entre os 90 e os 120 quilómetros, e confinado a uma camada relativamente fina, que terá entre os 5 e os 10 quilómetros de diâmetro. “A variação em altitude e o estreita extenção radial das regiões encontradas são particularmente interessantes, e aludem para a existência de um mecanismo que ainda não conhecemos e mantém o ozono naqueles locais”, afirma Håkan Svedhem, cientista da ESA do projeto da Venus Espress. A luz do Sol que ilumina a o lado diurno de Vénus separa a molécula de dióxido de carbono, o que liberta os átomos de oxigénio. Estes átomos são levados para o lado noturno por uma corrente de ar, um vento, relativamente intenso que tem origem no gradiente de temperatura que existe entre os dois lados de Vénus (diurno e noturno). Nesta região noturna, os átomos de oxigénio combinam-se para dar origem a moléculas oxigénio molecular e também a moléculas de ozono. Para além de permitir um estudo comparativo da atmosfera dos planetas terrestres do Sistema Solar, esta descoberta tem implicações importantes nas área da astrobiologia e dos planetas extrasolares. Num futuro próximo será possível determinar, com maior precisão, quais as características principais das atmosferas dos planetas extrasolares, e descobir bio marcadores - compostos químicos como a água, o dióxido de carbono, ou o oxigénio molecular, que estão associados, na Terra, aos organismos vivos. Até agora o ozono era também apontado como um potencial bio marcador, pois a sua existência está também associada à presença de oxigénio molecular. No entanto, a deteção de ozono na atmosfera de Vénus, um planeta que não terá formas de vida, levanta algumas questões acerca da ambiguidade do seu papel como bio marcador. Para mais informações |