Estrela artificial brilha no céu austral

1. O primeiro teste do sistema laser. (©ESO – Gerhard Hudepohl)
2. Uma estrela artificial sobre o Paranal. (©ESO – Sylvain Oberti
3. Laboratório do sistema laser. (©ESO)
1 março 2006

Cientistas de todo o mundo estão a celebrar mais um êxito conseguido pelo VLT Very Large Telescope (Cerro Paranal, Chile), do ESO. Graças aos esforços combinados de diversos investigadores foi possível iluminar os céus do hemisfério Sul com uma estrela artificial.

No dia 28 de Janeiro de 2006, pelas 23h07m locais, um raio laser com 4 Watts de potência foi emitido a partir do telescópio de 8.2 metros Yepun, unidade nº 4 do Observatório VLT. Este raio laser produziu, a uma altitude de 90 quilómetros, uma estrela artificial com uma magnitude visual de 9.3, ou seja, esta estrela é cerca de 20 vezes menos luminosa do que as mais ténues estrelas que os nossos olhos são capazes de distinguir, a olho nu, no céu nocturno. No entanto, ela é suficientemente brilhante para que através dela o sistema de óptica adaptativa do telescópio corriga efeitos provocados pela turbulência da nossa atmosfera.

A nitidez de uma imagem obtida com um telescópio a partir da superfície da Terra é afectada por efeitos de turbulência atmosférica, o que acaba por limitar muito a qualidade das imagens obtidas. Este problema pode ser ultrapassado com um sistema de óptica adaptativa, que permite a produção de imagens bem mais nítidas, a observação de pequenos detalhes nos objectos e também a detecção de objectos muito ténues.

Para funcionar correctamente o sistema de óptica adaptativa precisa de uma estrela de referência relativamente brilhante, o que limita a área do céu a observar. Esta restrição foi agora ultrapassada pelos astrónomos do ESO que conseguiram produzir uma estrela laser artificial de referência. Deste modo a óptica adaptativa poderá, no futuro, ser usada quando e onde os astrónomos quiserem.

O raio laser, cujo comprimento de onda é muito bem definido, faz com a camada de átomos de sódio que existe na atmosfera terrestre, a 90 quilómetros de altura, brilhe - assim os astrónomos obtêm a sua estrela artificial. O laser é produzido num laboratório que se encontra na base do telescópio Yepun, sendo depois transportado até ao telescópio lançamento, com 50 centímetros de diâmetro, que se encontra instalado no topo do Yepun.

O sistema laser Laser Guide Star (LGS) foi testado ao longo de 12 dias e depois usado para melhorar a resolução de dois instrumentos de óptica adaptativa que já se encontram instalados no telescópio Yepun o NAOS-CONICA e o espectrógrafo SINFONI. O sistema será melhorado e optimizado até ao final deste ano, altura em que será totalmente disponibilizado para ser usado pelos astrónomos do ESO.

A experiência adquirida com o desenvolvimento do LGS pelos cientistas e engenheiros do ESO e dos institutos Max-Planck de Física Espacial (Garching, Alemanha) e Astronomia (Heidelberg, Alemanha) será essencial na construção e desenho da próxima geração de telescópios, que terão entre 30 a 60 metros de diâmetro.

Para mais informações
http://www.eso.org/outreach/press-rel/pr-2006/pr-07-06.html