Astronomia na Antárctica

1. Localização do Dome C
2. Plataformas francesas Astroconcórdia (K. Agabi)
3. Telescópios de teste no Dome C (Guillaume Dargaud)
1 março 2010

No passado mês de Fevereiro o consórcio ARENA (Antarctic Research, a European Network for Astrophysics, ou Investigação na Antárctica, uma Rede Europeia para a Astrofísica), do qual o Centro de Astrofísica da Universidade do Porto (CAUP) faz parte, publicou o relatório “Uma visão para a astronomia e astrofísica europeia na estação Antárctica Dome C”.

O consórcio ARENA foi criado em 2006 para definir quais as áreas e instrumentos apropriados para investigação no pólo Sul, na década 2010-2020. É composto por 22 parceiros, de 7 estados-membro da União Europeia.

Acerca do local, Jarle Brinchmann (CAUP/Observatório de Leiden) membro do comité de gestão do consórcio, diz que: “o planalto Antárctico representa uma das últimas fronteiras da investigação. É um dos locais mais frios e secos da Terra, mas oferece aos astrónomos uma das melhores janelas para o Universo”.

O local é particularmente útil para observação astronómica por causa das condições únicas da estação Concórdia (Dome C):

  • A altitude de 3233 metros proporciona um céu com quantidades mínimas de turbulência e poluição atmosférica.
  • As temperaturas baixas (mínima registada de -81,9º C) garantem também um mínimo de absorção e espalhamento da luz, o que dá acesso a comprimentos de onda dificilmente observáveis da superfície da Terra (como por exemplo, infravermelhos e micro-ondas).
  • Apesar de ser gelado, a Antárctica é um deserto, seco, e com muito pouca nebulosidade, garantindo um grande número de noites limpas.
  • A latitude (75º Sul), que está na origem dos vários meses seguidos de dia (no Verão), e e de noite (no Inverno), torna possível a observação ininterrupta tanto do Sol, como de vários objectos celestes.

Devido às condições do local, e com base no relatório, o consórcio propõe as seguintes áreas de investigação:

  • Origem do Universo, pelo estudo da radiação cósmica de fundo e da energia escura.
  • Formação estelar e galáctica, já que as observações na banda do infravermelho permitem “ver” o interior das regiões de formação estelar.
  • Sondar o interior e a atmosfera do Sol e das estrelas, recorrendo a asterossismologia e longos períodos de observação.
  • Detectar exoplanetas e, se possível, vestígios de vida extra-terrestre, pois os vários meses seguidos de noite tornam o local ideal para detectar planetas pelo método de trânsito.

Para concretizar tudo isto estão planeados vários instrumentos, alguns já operacionais (como o A STEP ou o COCHISE), e outros que só se deverão ser implementados depois de 2020 (como o KEOPS).

Notas:
O Método de trânsito é um dos métodos de detecção de planetas extra-solares. Consiste na medição da diminuição da luz de uma estrela, provocada pela passagem do planeta à frente dessa estrela (algo semelhante a um micro-eclipse). Este método é complicado de usar, porque exige que o planeta e a estrela estejam exactamente alinhados com a linha de visão do observador.

Asterossismologia (ou sismologia estelar) consiste no estudo da estrutura interna de uma estrela, através da observação de ondas à superfície desta. O princípio deste método é semelhante ao do usado pelos geólogos aqui na Terra, que aproveitam a propagação de ondas durante um sismo para inferir propriedades do interior da Terra.

Energia Escura é um tipo hipotético de energia que não se consegue detectar por meios tradicionais, e que permeia todo o Universo. Esta serve para explicar (entre outras coisas), o porquê da expansão acelerada do Universo, já que funciona como um tipo de anti-gravidade.

Mais informações:
Comunicado de imprensa ARENA
Relatório final ARENA
Página de divulgação para o público do ARENA

Contactos:
Jarle Brinchmann

Núcleo de Divulgação do CAUP
Ricardo Cardoso Reis
Filipe Pires (coordenador)