As futuras missões da ESA

1. Imagem artística da PLATO a observar um trânsito (Ricardo Reis, CAUP / ESA)
2. Imagem artística da Solar Orbiter (ESA)
3. Simulação da distribuição de matéria escura no Universo (António da Silva, CAUP)
23 fevereiro 2010

Na passada quinta-feira, o comité para o programa espacial da ESA escolheu as três missões, das 10 ainda a concurso, que passam à fase seguinte do programa Cosmic Vision 2015-2025.

O Cosmic Vision 2015-2025 é o programa que irá definir quais as missões que a ESA lançará para o espaço, depois de 2015. E desde quinta-feira que os “concorrentes” diminuíram de dez para três. Estas três serão agora escrutinadas ao pormenor durante o próximo ano e meio, altura em que a ESA decidirá quais as duas (no máximo) que serão efectivamente lançadas para o espaço.

A missão PLATO (PLAnetary Transits and Oscillations of stars, ou Trânsitos Planetários e Oscilação de Estrelas) irá detectar planetas pelo método de trânsito e estudará as estrelas “mãe” desses planetas por asterossismologia.

A evolução dos planetas está directamente ligada à estrela à volta da qual orbitam. Com a asterossismologia é possível determinar com precisão única as propriedades fundamentais das estrelas (massa, idade, raio), de modo a compreender a formação e evolução das estrelas “mãe” e dos planetas.

Associado a outros instrumentos (como o ESPRESSO, a ser instalado no VLT), o PLATO poderá detectar planetas parecidos com a Terra. O investigador do CAUP Nuno Santos, investigador principal da parte nacional do PLATO, diz que “a complementaridade dos dois instrumentos permitirá determinar a massa e diâmetro dos planetas detectados. Teremos assim uma base de dados de “outras Terras” para estudar e tentar descobrir traços da existência de vida extra-terrestre.”

A Solar Orbiter , tem como principal objectivo determinar como é que o Sol cria e controla a heliosfera. Para tal, atravessará as regiões interiores da heliosfera, ainda mais próximo que a órbita de Mercúrio.

“As observações de elevada qualidade e resolução que serão obtidas pela Solar Orbiter, complementadas com modelos baseados na teoria magneto-hidrodinâmica, poderão fornecer-nos indicações preciosas sobre a nossa estrela.”, disse João Lima, astrónomo solar do CAUP.

Além de João Lima, também os investigadores do CAUP Alexandre Fernandes e João Ferreira estão envolvidos no desenvolvimento de tais modelos.

Já a missão Euclid é dedicada ao estudo do “lado escuro” do Universo. Os objectivos do Euclid incluem compreender a natureza e a dinâmica da energia e matéria escura, para além da geometria e condições iniciais do Universo. Para isso este irá efectuar as mais extensas e detalhadas pesquisas fotométricas e espectroscópicas de galáxias e enxames de galáxias da história da astronomia.

António da Silva, astrónomo extragaláctico/cosmólogo do CAUP, comenta que “a observação de elipicidade, magnitude e espectroscopia de galáxias a realizar pelo Euclid possibilitará cartografar de forma tridimensional a distribuição de matéria (escura e luminosa) até distâncias tão longínquas como 10 mil milhões de anos-luz.”

Neste momento Portugal está representado no consórcio do Euclid como observador.

Notas:
O Método de trânsito é um dos métodos de detecção de planetas extra-solares. Consiste na medição da diminuição da luz de uma estrela, provocada pela passagem do planeta à frente dessa estrela (algo semelhante a um micro-eclipse). Este método é complicado de usar, porque exige que o planeta e a estrela estejam exactamente alinhados com a linha de visão do observador.

Asterossismologia (ou sismologia estelar) consiste no estudo da estrutura interna de uma estrela, através da observação de ondas à superfície desta. O princípio deste método é semelhante ao do usado pelos geólogos aqui na Terra, que aproveitam a propagação de ondas durante um sismo para inferir propriedades do interior da Terra.

Heliosfera é a atmosfera da nossa estrela, o Sol. É a “bolha” de partículas carregadas, que envolve todo o nosso Sistema Solar e que delimita a influência do Vento Solar. Estende-se bem para lá da órbita de Plutão até à heliopausa, a zona onde a pressão do vento solar é igual à pressão do vento das outras estrelas.

Matéria Escura é, como o próprio nome indica, matéria que não se consegue observar através de métodos tradicionais, pois não emite (ou emite muito pouca) radiação electromagnética. Apesar de compor a maioria da matéria do Universo, só pode ser detectada indirectamente, através da sua influência gravitacional.

Energia Escura é um tipo hipotético de energia que não se consegue detectar por meios tradicionais, e que permeia todo o Universo. Esta serve para explicar (entre outras coisas), o porquê da expansão acelerada do Universo, já que funciona como um tipo de anti-gravidade.

Mais informações:
Comunicado de imprensa ESA