Não, não é uma miragem!

Imagem do triplo quasar LBQS 1429-008. (©ESO)

6 fevereiro 2007

Desde a descoberta do primeiro quasar (QUASi StellAR Sources) em 1963 pelo astrónomo Maarten Schmidt (Observatório de Palomar, Califórnia, EUA), que estes objectos têm sido alvo de grandes projectos de observação astronómica.

O nome quasar refere-se à sua semelhança com estrelas, nas imagens obtidas aquando da sua descoberta. Os quasares são na realidade objectos extremamente luminosos do Universo longínquo, que parecem ter na sua origem da sua intensa luminosidade um buraco negro supermassivo. Um só quasar pode ser milhares de vezes mais brilhante do que uma galáxia constituída por centenas de milhares de milhões de estrelas. No entanto, toda esta energia provém de uma região mais pequena que o nosso Sistema Solar.

Até hoje já se detectaram vários milhares de quasares e entre eles algumas dezenas de pares. A descoberta de um trio de quasares é algo inédito. Esta descoberta foi conseguida por combinação de observações obtidas por dois dos melhores observatórios do mundo: o VLT (ESO) e o W.M. Keck (Mauna Kea, Hawaii), bem como através de métodos muito sofisticados de tratamento de imagem.

O quasar agora observado o LBQS 1429-008 foi pela primeira vez observado em 1989 por uma equipa internacional de astrónomos liderada por Paul Hewett do Instituto de Astronomia de Cambridge. Hewett e os seus colaboradores encontraram um companheiro pouco luminoso deste quasar que pensaram ser o resultado de uma lente gravitacional.

O conceito de lente gravitacional provém da teoria da relatividade Geral de Einstein: se um corpo de grande massa, como uma galáxia ou um enxame de galáxias, estiver colocado na linha de observação que nos separa de um quasar distante, os raios de luz provenientes do quasar sofrem um desvio e um observador terrestre verá duas ou mais imagens do quasar, como uma espécie de miragem cósmica. A primeira lente gravitacional foi descoberta em 1979 e centenas de outros são já conhecidos. No entanto, o caso do LBQS 1429-008 sempre intrigou os astrónomos e alguns colocaram mesmo a hipótese de este ser um caso de dois quasares.

O que a equipa Caltech-Suiça descobriu foi um terceiro, e mais ténue objecto que parece estar associado aos outros dois. Os três apresentam o mesmo valor de desvio para o vermelho, ou seja, encontram-se à mesma distância da Terra. Os astrónomos tentaram, através de diferentes modelos teóricos, explicar a geometria observada das três imagens, como se fossem uma consequência de um fenómeno de lente gravitacional, mas os resultados não conseguem reproduzir as observações, além disso, não parece existir na nossa linha de visão nenhuma galáxia capaz de fazer de lente.

A equipa também conseguiu detectar pequenas mas significativas diferenças nas propriedades dos três quasares, que são bem mais fáceis de entender se realmente estivermos perante objectos fisicamente distintos e não miragens. Ao combinarmos todos estes factos a explicação lente gravitacional é eliminada. "Resta-nos a mais excitante possibilidade de estarmos perante um quasar triplo", afirma Georges Meylan (Lausanne). Os três quasares encontram-se separados por 100.000 a 150.000 anos-luz o que é cerca de metade do diâmetro da Via Láctea.

"Pensa-se que o que mantém um quasar é a queda de material na direcção de buracos negros supermassivos centrais. Este processo acontece de forma mais eficaz quando galáxias se combinam ou fundem, e estamos a ver um sistema que se encontra numa época da história do Universo onde estas interacções estavam no seu pico.", afirmou George Djorgovski (Caltech).

Se as interacções entre galáxias são realmente responsáveis pela actividade dos quasares, ter 2 quasares próximos um do outro seria muito mais provável do que encontrar quasares distribuídos no espaço de uma maneira não uniforme. Isto poderá explicar a abundância de quasares em sistemas binários. A descoberta de outros sistemas semelhantes a este agora detectado poderá levar os astrónomos a uma melhor compreensão da relação entre formação e evolução de galáxias e dos buracos negros que se encontram nos seus núcleos.

Para mais informações
http://www.eso.org/outreach/press-rel/pr-2007/pr-02-07.html