Vampirismo estelar desvendado

1. A abundância de oxigênio vs. a abundância de carbono das blue stragglers do 47 Tuc. (©FLAMES/VLT ESO)

9 novembro 2006

As estrelas blue stragglers - azuis vagabundas - são estrelas jovens que inexplicavelmente se encontram em agregados estelares, como é o caso dos enxames globulares, que são essencialmente compostos por estrelas velhas.

Não se sabe com certeza a origem destas estrelas enigmáticas, pensa-se que terão origem em colisões estelares, ou são o resultado da evolução e junção de estrelas de sistemas binários, onde uma das estrelas "rouba" material à companheira rejuvenescendo-se. A resolução do enigma das blue stragglers está relacionado com a resolução de algumas questões relacionadas com a dinâmica de enxames estelares e com a dinâmica que envolve a evolução de sistemas binários.

Para os investigadores tem sido muito complicado perceber qual a verdadeira origem destas estreloas, as assinaturas do que é resultado de "tráfico" estelar e do que é "vampirismo" estelar são por vezes indistinguíveis.

Um grupo de astrónomos observou, com o VLT - Very Large Telescope - do ESO, o enxame globular 47 Tucanae (ou 47 Tuc), com o objectivo de determinar a abundância dos elementos químicos que existem na superfície de 43 estrelas blue stragglers pertencentes ao enxame. Os investigadores descobriram que 6 das estrelas observadas contêm menos carbono e oxigénio do que é normal para esta classe de estrelas. Uma "anomalia" deste tipo indica que o material detectado na superfície das estrelas provém do interior de estrelas mais velhas.

No interior de estrelas mais massivas do que o Sol, hidrogénio é transformado em hélio com a ajuda dos catalisadores carbono, azoto e oxigénio. Este material pode chegar à superfície das blue stragglers através de um processo de transferência de massa entre estrelas de um binário.

No núcleo de um enxame globular as estrelas encontram-se muito próximas umas das outras: mais de 4.000 estrelas podem ser encontradas num volume de um ano-luz cúbico, na região mais central do 47 Tuc. É por isso que as colisões estelares parecem ser frequentes , proporcionando uma boa, e eficiente oportunidade para a formação das blue stragglers.

A assinatura química detectada nestas observações demonstra que o cenário de transferência de matéria entre as estrelas também está a acontecer num enxame de alta densidade como é o caso do 47 Tuc. "A nossa descoberta é assim um passo fundamental para chegarmos a uma solução que desvende o mistério que é a formação das blue stragglers em enxames globulares", afirma Francesco Ferraro do Departamento de Astronomia da Universidade de Bolonha (Itália) e principal autor do trabalho agora publicado.

Observações deste tipo de estrelas que se encontram tão próximas e que são por isso difíceis de distinguir só são possíveis de levar a cabo com telescópios da classe dos 8 metros de diâmetro, e com instrumentos de alta precisão. Neste caso o instrumento usado foi o FLAMES/Giraffe, que permite a observação simultânea de até 130 alvos ao mesmo tempo. Isto torna-o o instrumento ideal para observar estrelas individuais que se encontram em regiões muito povoadas.

Para mais informações
http://www.eso.org/outreach/press-rel/pr-2006/pr-37-06.html