Anã castanha é engolida mas não deglutida

1. Visão artística do sistema binário agora descoberto. (©ESO)

2. Simulação de computador que ilustra a interacção. (©Steven Diehl, Chris Fryer, Falk Herwig, e Gabriel Rockefeller/LANL & ESO)

17 agosto 2006

Um invulgar sistema estelar, constituído por duas estrelas de diferentes cores, que orbitam uma em torno da outra, foi recentemente descoberto por uma equipa de astrónomos com a ajuda do telescópio VLT - Very Large Telescope, do ESO. Uma das estrelas é uma anã branca, muito quente e com uma massa semelhante a metade da massa do Sol, enquanto que a outra é uma anã castanha, bem mais fria e com uma massa correspondente a 55 massas de Júpiter.

"Um sistema deste tipo terá vivido uma história atribulada", afirmou Pierre Maxted (Keele University, Reino Unido), autor principal do artigo onde esta descoberta é apresentada. "A sua existência prova que a anã castanha sobreviveu, inalterada, ao facto de ter sido engolida por uma gigante vermelha."

Os dois objectos encontram-se separados por cerca de 463.000 quilómetros (cerca de 2/3 do raio do Sol), e orbitam um em torno do outro a cada 2 horas. A anã castanha desloca-se na sua órbita a uma velocidade incrível: 800.000 quilómetros por hora!

No passado as duas estrelas não se encontravam tão próximas. Só quando a estrela do tipo solar, que agora se transformou numa anã branca, passou para a fase de gigante vermelha, é que a separação entre os dois objectos diminuiu drasticamente. Durante esta fase, a gigante envolveu por completo a sua companheira. A anã castanha terá posteriormente, e de forma lenta, espiralado em direcção ao núcleo da gigante. O envelope da gigante foi mais tarde ejectado, deixando atrás de si um sistema binário no qual a companheira anã castanha ficou posicionada numa órbita muito próxima da anã branca. "Se a estrela companheira tivesse uma massa inferior a 20 massas de Júpiter teria evaporado durante a fase de ejecção do envelope da gigante vermelha", afirmou Maxted.

No entanto, o infortúnio da anã castanha ainda não terminou. A Teoria Geral da Relatividade de Einstein prevê que a separação entre os dois objectos continue a diminuir lentamente com o tempo. "Assim, durante os próximos 1.4 mil milhões de anos, o período orbital diminuirá para cerca de 1 hora", afirmou Ralf Napiwotzki, da Universidade de Hertfordshire (Reino Unido), e co-autor do artigo. "Nessa fase, os dois objectos estarão tão próximos que a anã branca funcionará como um "aspirador" gigante, extraindo gás da sua companheira, num acto de "canibalismo" cósmico.

Para mais informações
http://www.eso.org/outreach/press-rel/pr-2006/pr-28-06.html