Enxame de galáxias a 10 mil milhões de anos-luz

O enxame de galáxias XMMXCS 2215-1738. (©XMM - XCS)

5 junho 2006

No encontro da Sociedade Americana de Astronomia que está a decorrer em Calgary, Canadá, uma equipa de astrónomos, da qual faz parte Pedro Viana, do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto, anunciou a descoberta do mais distante enxame de galáxias alguma vez encontrado. Um enxame de galáxias é uma densa aglomeração de milhares de galáxias, as quais se movem sob efeito da sua atracção gravitacional mútua através dum meio preenchido por um plasma super-aquecido, essencialmente constituído por hidrogénio ionizado, e por matéria escura.

"A questão principal é: o que está ele a fazer ali?" disse o Prof. Bob Nichol da Universidade de Portsmouth, Inglaterra, e co-autor do artigo científico onde a descoberta é descrita "Esta enorme estrutura existe numa altura em que o Universo possuía menos de um terço da sua idade actual, uns meros 4.5 mil milhões de anos após o Big Bang!"

A quase 10 mil milhões de anos-luz da Terra, o enxame de galáxias XMMXCS 22151738 contém milhares de galáxias embebidas num plasma que se encontra a uma temperatura superior a 10 milhões de graus e emite uma prodigiosa quantidade de raiosX. A equipa XCS, que significa XMM Cluster Survey, usou observações obtidas com o satélite X-ray Multi Mirror (XMM) - Newton da Agência Espacial Europeia (ESA) para descobrir este enxame de galáxias, tendo de seguida determinado a sua distância através de dados colectados com o telescópio W. M. Keck no Hawaii, EUA, que com os seus 10 metros de diâmetro é o maior do mundo.

"Não queria acreditar quando verifiquei que este enxame tão distante continha imensas galáxias muito velhas" comentou o Dr. Adam Stanford, investigador na Universidade da Califórnia e no Laboratório Nacional Lawrence Livermore, e autor principal do artigo científico onde a descoberta é reportada. "A existência deste enorme enxame numa época tão inicial no Universo é um desafio para as nossas teorias sobre o modo como se formam as maiores estruturas no Universo."

"Este enxame não foi díficil de encontrar." disse a Dra. Kathy Romer da Universidade de Sussex, Inglaterra, e Investigadora Principal da equipa XCS. Esta equipa está a procurar mais enxames como o XMMXCS 2215-1738 nos arquivos que contêm todas as observações efectuadas com o satélite XMM-Newton, usando para tal algoritmos desenvolvidos pelo Dr. Robert Mann da Universidade de Edinburgo, Escócia. "A existência deste enxame foi confirmada logo na nossa primeira boa noite de observação com o telescópio W. M. Keck. Como possuímos vários milhares de candidatos a enxames para observar, mal posso esperar para descobrir quantos mais enxames como o XMMXCS 2215-1738 existirão no Universo!" disse a Dra. Kathy Romer.

A grande supresa do enxame XMMXCS 2215-1738 pode bem ser a sua massa. Kivanc Sabirli, uma estudante de doutoramento da Universidade de Carnegie Mellon, EUA, estimou a temperatura do plasma emissor de raios-X, e através desta calculou que o enxame possui uma massa cerca de 500 biliões de vezes superior à do Sol. Enxames com tal quantidade de massa crescem pela agregação de muitas estruturas de menor dimensão. No entanto, este processo demora tempo. "A existência de um enxame de galáxias com tal massa numa época tão inicial na história do Universo, reforça a conclusão " a que já antes se tinha chegado com base noutros tipos de dados observacionais - de que o Universo é mais estranho do que se estava à espera, preenchido por um exótico tipo de energia, denominada escura, que faz com que a expansão do Universo esteja hoje a acelerar." afirma o Dr. Pedro Viana da Universidade do Porto.

A equipa XCS está empenhada num programa de observação a longo prazo, dirigido pelo Dr. Chris Miller do Observatório Nacional no Óptico para a Astronomia dos EUA (NOAO), para encontrar mais enxames como o XMMXCS 2215-1738, utilizando para tal o Observatório Inter-Americano Cerro Tololo (CTIO) no Chile e o Observatório Nacional Kitt Peak (KPNO) no Arizona, EUA. "Começamos bem" comentou o Prof. Chris Collins da Universidade Johns Moores de Liverpool, Inglaterra, e coordenador das observações efectuadas com outros telescópios, como o W. M. Keck e o Gemini, dos enxames detectados pela equipa XCS. "O catálogo obtido pela XCS vai manter-se o mais importante em existência durante muitos anos".

Isto não quer dizer que a equipa XCS já se esqueceu do enxame XMMXCS 2215-1738. "É especial" disse o Dr. Adam Stanford. "Nós continuaremos a estudar este enxame utilizando para tal todos os instrumentos à nossa disposição, como o Telescópio Espacial Hubble, com o qual estamos a obter imagens detalhadas das galáxias no enxame". Este enxame de galáxias é uma estrutura rara no Universo inicial e portanto um tesouro para os astrónomos.

Para mais informações
http://xcs-home.org/aas