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Centro de Astrofísica da Universidade do Porto
20 março 2007

Pela primeira vez uma equipa de astrónomos testemunhou a aceleração da rotação de um asteróide, facto que se deve a um resultado teórico, que até agora ainda não tinha ainda sido observado.

"Pensa-se que o efeito Yarkovsky-O-Keefe-Radzievskii-Paddack (YORP) pode alterar a forma como os pequenos objectos do Sistema Solar rodam", afirma Stephen Lowry (Queens University Belfast, Reino Unido), autor de um dos artigos onde é descrita esta descoberta. "O aquecimento provocado pela incidência da luz solar na superfície dos asteróides e meteoróides pode desencadear um movimento à medida que o calor é libertado.", acrescenta. Da mesma forma, se incidirmos luz numa hélice, durante um longo período de tempo, ela começará a rodar.

Embora esta força seja incomensuravelmente fraca, o seu efeito, ao longo de milhões de anos, não é de todo insignificante. Os astrónomos acreditam que o efeito YORP pode ser responsável pela rotação de asteróides a velocidades de tal forma elevadas, que têm como consequência final a desintegração dos mesmos, algo que pode levar à formação de asteróides duplos. Por outro lado, outros poderão abrandar o seu movimento de rotação de tal maneira que para completar uma rotação completa demoram vários dias.

O efeito YORP também tem um papel importante na mudança das órbitas dos asteróides que se encontram em Marte e Júpiter. Alguns destes poderão adquirir orbotas de intercepção com planetas. No entanto, apesar da sua importância, o efeito YORP não tinha sido ainda registado em observações.

O pequeno asteróide (54509) 2005 PH5 foi descoberto no ano 2000 e desde essa altura considerado um bom candidato para nele se detectar o efeito YORP, pois o seu diâmetro é de apenas 114 metros, o que o tornaria facilmente susceptível às consequências do efeito. Um outro facto relevante é a sua rápida rotação: um "dia" no asteróide são cerca de 12 minutos terrestres. Esta rápida rotação poderia implicar que há muito o efeito estaria a actuar sobre o pequeno asteróide.

Armados com todos estes factos, uma equipa de astrónomos deu início a uma longa campanha de observação cujo objectivo era detectar o efeito YORP em acção. Ao longo de 4 anos, Stephen Lowry, Alan Fitzsimmons e os colegas obtiveram imagens do asteróide com a ajuda de uma armada de telescópios: um dos telescópios de 8.2 metros do VLT (ESO Paranal, Chile), o telescópio de 3.5 metros NTT (ESO - La Silla, Chile) e telescópios situados na República Checa, nas Canárias (Espanha), no Hawaii (EUA), em Espanha e no Chile. Com todas as observações os astrónomos registaram as ínfimas variações de brilho detectadas à medida que o asteróide rodava.

Ao longo do mesmo período de tempo, uma equipa de rádio astrónomos liderada por Patrick Taylor e Jean-Luc Margot da Universidade de Cornell (EUA) usou o telescópio de Arecibo (Porto Rico) e o radar de Goldstone (Califórnia, EUA) para observar o asteróide. A equipa analisou o eco de uma onda de rádio reflectida pela superfície do asteróide. "Através desta técnica podemos reconstruir um modelo 3-D da forma do asteróide com o detalhe necessário para permitir comparações entre os modelos teóricos e as observações.", afirma Patrick Taylor.

Após uma cuidada análise dos resultados obtidos com os telescópios ópticos, a equipa verificou que a rotação do asteróide parecia aumentar com o tempo, esta progressão pode ser explicada recorrendo aos modelos teóricos YORP. Depois de combinados os resultados no óptico e de radar, os astrónomos verificaram que ambos suportavam esta conclusão.

Para perceberem qual o comportamento futuro do asteróide, Lowry e os seus colegas fizeram diversas simulações. O asteróide deverá permanecer estável durante os próximos 35 milhões de anos, aumentando, no entanto, o seu período de rotação por um factor de 36 - o asteróide passaria a completar uma órbita em apenas 20 segundos, o que quer dizer que seria mais rápido do que qualquer asteróide até hoje observado. "Esta rápida rotação levaria muito possivelmente à destruição do asteróide, e ao possível nascimento de um sistema duplo de asteróides", afirma Lowry.

Para mais informações
http://www.eso.org/outreach/press-rel/pr-2007/pr-11-07.html

1. O asteróide 2000 PH5. (©ESO)
2. Imagens de radar do asteróide 2000 PH5. (©ESO)
3. A mudança de rotação do asteróide 2000 PH5 (©ESO)