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Centro de Astrofísica da Universidade do Porto
12 setembro 2007

As estrelas não gostam de estar sozinhas. De facto, a maioria das estrelas pertence a sistemas binários, onde duas estrelas rodam em torno uma da outra numa dança cósmica aparentemente interminável. No entanto, esse bailado cósmico pode ter, por vezes, um fim violento. Quando as estrelas do binário estão demasiado próximas, uma delas começa a devorar a companheira. Se a estrela vampira for uma anã branca uma estrela em fim de vida que já foi como o nosso Sol, esta ganância pode levar a uma grande catástrofe cósmica: a anã branca explode como uma supernova de tipo Ia.

Em Julho de 2006, o VLT do ESO obteve imagens desse fogo de artifício estelar na galáxia NGC 1288. A supernova, designada por SN 2006dr, estava a atingir o seu brilho máximo, brilhando tanto como a própria galáxia, um testemunho da quantidade de energia libertada.

NGC 1288 é uma espectacular galáxia espiral, observada praticamente de topo e mostrando múltiplos braços em espiral. Extremamente parecida com a bonita galáxia em espiral NGC 1232, situa-se a 200 milhões de anos luz da Via Láctea. Dois braços principais emergem das regiões centrais e separam -se progressivamente em mais braços, à medida que nos afastamos do centro. Uma pequena barra de estrelas e gás atravessa o centro da galáxia.

As primeiras imagens de NGC 1288, obtidas em 1998 com instrumento FORS instalado no VLT, tinham uma qualidade tão elevada que permitiram aos astrónomos [1] desenvolver uma análise quantitativa da morfologia da galáxia. Eles descobriram que NGC 1288 está provavelmente rodeada por uma grande halo de matéria negra. O aspecto e número de braços espirais relaciona-se directamente com a quantidade de matéria negra no halo galáctico.

A supernova foi observada pela primeira vez pelo astrónomo amador Berto Monard. Na noite de 17 de Julho de 2006, Monard utilizou o seu telescópio de 10 cm nos subúrbios de Pretória, na África do Sul, e descobriu a supernova como sendo, aparentemente, uma "nova estrela" perto do centro de NGC 1288, sendo então designada SN 2006dr. A supernova atingiu uma magnitude de 16, isto é, cerca de 10 000 mais ténue do que a vista desarmada consegue observar.

Usando espectros obtidos pelo telescópio Keck a 26 de Julho de 2006, astrónomos da Universidade da Califórnia descobriram que SN 2006dr era uma supernova do tipo Ia [2] que expelia material a velocidades superiores a 10 000 km/s.

Notas:

[1]: "Morphological structure and colors of NGC 1232 and NGC 1288" por C. Moellenhoff et al., A&A 352, L5 (1999) 2 "Quantitative interpretation of the morphology of NGC 1288" por B. Fuchs e C, Moellenhoff, A&A 352, L36 (1999)

[2]: As supernova de tipo Ia são uma subclasse deste objectos que foram classificados historicamente por não mostrarem a assinatura do Hidrogénio no seu espectro. Actualmente, são entendidas como sendo estrelas pequenas e compactas, chamadas anãs brancas, que adquirem matéria de uma estrela companheira. Uma anã branca representa o penúltimo estágio de uma estrela do tipo solar. O reactor nuclear que é o seu núcleo ficou sem combustível há muito tempo e está agora inactivo. No entanto, em alguma altura da sua vida, o peso crescente da matéria que se foi acumulando terá elevado a pressão no interior da anã branca de tal forma que as cinzas nucleares do centro irão acender-se e começar a transformar-se em elementos mais pesados. Este processo descontrola-se muito rapidamente e a estrela é totalmente destruída num evento dramático.
As supernovas do tipo Ia são muito úteis como indicadores cósmológicos de distância, permitindo aos astrónomos estudar a expansão do Universo e concluirem que este se expande a um ritmo acelerado.

Para mais informações
http://www.eso.org/public/outreach/press-rel/pr-2007/pr-39-07.html

1. SN 2006dr em NGC 1288