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Centro de Astrofísica da Universidade do Porto
2 outubro 2006

Graças às capacidades únicas do VLTI - Very Large Telescope Interferometer (ESO), um grupo de astrónomos resolveu um enigma com 140 anos e que envolve estrelas activas muito quentes.

A uma distância de 300 anos-luz da Terra, a estrela Alpha Arae é a estrela do tipo B[e] que se encontra mais próxima do Sistema Solar. As estrelas B[e] são estrelas do tipo espectral B, que apresentam riscas de emissão no seu espectro daí o "e". Porque são uma fonte de radiação ultravioleta, as estrelas B[e] são importantes no aquecimento das galáxias. Estas estrelas são também muito luminosas, têm muita massa, são quentes e rodam muito rapidamente. Por rodarem rapidamente perdem massa, pelos pólos, por efeitos do seu intenso vento estelar e encontram-se rodeadas, na região do equador, por um disco de matéria. A estrela Alpha Arae tem uma massa 10 vezes superior à do Sol, é 3 vezes mais quente e 6.000 vezes mais luminosa.

Há muito que se tenta perceber como rodam os discos que envolvem estrelas activas como as estrelas B[e]. Desde a descoberta da primeira estrela B[e] (Gamma Cassiopeiae), há 140 anos atrás, a 23 de Agosto de 1866, em Roma, pelo padre Angelo Secchi, que esta questão está por responder. Mas, 140 anos depois, os astrónomos contam com novos meios para olhar o Universo, e têm a possibilidade não só de usar telescópios de grande dimensão, bem como de combinar vários telescópios para assim observar ainda mais e melhor. Neste caso os "olhos" usados foram o instrumento AMBER e 3 dos telescópios de 8.20 metros do VLT. Convém lembrar que com o AMBER os astrónomos são capazes de observar detalhes da ordem de 1 milésimo de segundos de arco, o que corresponde a distinguir, a partir da Terra, os faróis de um carro na superfície da Lua.

Agora, com o AMBER, uma equipa de astrónomos conseguiu perceber os detalhes da estrutura do disco que envolve a estrela Alpha Arae. Além disso, e porque o AMBER também obtém espectros, o grupo conseguiu estudar o movimento do gás no disco e compreender como este roda. "Embora trabalhos teóricos anteriores já adiantassem explicações, o nosso resultado - o primeiro a fornecer provas observacionais " será o ponto final nesta discussão.", afirmou Philippe Stee, do Observatório da Côte d'Azur (França) e chefe da equipa de investigação.

Os astrónomos descobriram que o material do disco de Alpha Arae segue uma "rotação Kepleriana", isto quer dizer que obedece às mesmas regras do movimento Kepleriano, que também se aplica ao movimento dos planetas do Sistema Solar à volta do Sol: a velocidade do material diminui com a raiz quadrada da distância à estrela. Este novo resultado anula a possibilidade do disco rodar com uma velocidade uniforme, o que aconteceria caso estivéssemos perante um forte campo magnético. Este campo obrigaria a matéria a rodar ao mesmo tempo em torno da estrela.

O grupo de investigadores também conseguiram mostrar que a estrela Alpha Arae, que é 5 vezes maior do que o Sol, completa uma rotação em cerca de meio dia, isto é 50 vezes mais rápido do que o Sol. De facto, com uma velocidade na região do equador próxima dos 470 km/s, a estrela está muito próximo de atingir uma velocidade crítica de desintegração. A matéria, se atingir uma velocidade crítica, separar-se-ia da estrela da mesma forma que um objecto seria ejectado de um carrossel caso este ultrapasse a velocidade recomendada.

"Esta rotação quase crítica pode ser uma pista para explicar o fenómeno B[e]", afirma Stee. "A intensa rotação pode fornecer energia suficiente para que o material levite, dando origem depois ao disco de matéria."

Finalmente, os astrónomos também conseguiram mostrar que a estrela perde massa através do vento estelar que, emerge predominantemente dos pólos, e atinge uma velocidade da ordem dos 2.000 km/s.

Mais uma vez esta observação vem demostrar o imenso potencial do VLTI, que permite combinar 2 ou 3 das unidades principais do VLT bem como dos telescópios auxiliares que se encontram no topo do Paranal.

Para mais informações
http://www.eso.org/outreach/press-rel/pr-2006/pr-35-06.html

1. A estrela B[e] Alpha Arae (impressão artística). (©A. Meilland) 2. O AMBER no laboratório do VLTI. (©ESO)