3 junho 2013
O ESPRESSO (Echelle SPectrogaph for Rocky Exoplanet and Stable Spectroscopic Observations) recebeu aprovação para avançar para a fase de construção. Quando estiver em funcionamento, em 2016, será capaz de detetar planetas semelhantes à Terra a orbitar outros sóis. Este é um projeto conjunto de um consórcio de instituições científicas e académicas de Portugal, Itália, Suíça e Espanha e resultará na construção do mais estável e preciso espetrógrafo do mundo. O ESPRESSO será instalado no observatório VLT e conseguirá detetar variações de velocidade inferiores a 10 centímetros-por-segundo (ou 0.4 km/h). Esta grande precisão do ESPRESSO será fundamental para conseguir detetar as pequenas variações na velocidade radial das estrelas causadas pela presença de planetas semelhantes à Terra em seu redor. Desta forma, este espetrógrafo será o primeiro com capacidade de detetar de forma sistemática um grande número de novos planetas rochosos e potencialmente habitáveis em torno de outras estrelas. Segundo Nuno Santos, investigador do CAUP e coordenador da colaboração portuguesa neste consórcio, “a maioria dos exoplanetas que conhecemos até agora são muito grandes e estão muito próximos da sua estrela, aquilo a que chamamos júpiteres quentes. Apesar de a tecnologia actual ser já capaz de detetar planetas de massa muito pequena, não temos ainda a tecnologia necessária para detetarmos eficazmente exoplanetas parecidos com a Terra, ou seja, planetas com massa semelhante à do nosso planeta a orbitar a sua estrela a distancias desta que permitam a existência de água líquida. Agora, com o ESPRESSO, este cenário vai mudar radicalmente e esperamos confirmar que só na nossa galáxia existirão qualquer coisa como 50 ou 100 mil milhões de planetas com condições semelhantes às da Terra.” No entanto, as capacidades do ESPRESSO tornam-no também no instrumento ideal para detetar pequenas variações nas constantes cosmológicas e ajudar a perceber os detalhes da história do Universo. Para além disso, este instrumento de segunda geração do VLT irá também trazer um grande benefício a várias outras áreas da astronomia, com destaque para a análise da composição química de estrelas e do gás intergaláctico. Recentemente, o Observatório Europeu do Sul deu como concluída a fase de Final Design Review, correspondente à avaliação do desenho final da componente tecnológica. Assim, com a conclusão desta fase, foi dada luz verde para o início da construção do ESPRESSO. Ao longo dos próximos 3 anos, as várias instituições do consórcio responsável pelo ESPRESSO irão construir e integrar os vários componentes e sistemas de controlo deste espetrógrafo. Alexandre Cabral (CAAUL-FCUL), responsável pelo desenvolvimento da componente tecnológica que está a ser desenvolvida em Portugal, refere que “esta é uma ótima notícia pois vamos finalmente passar da teoria à prática, à implementação do que temos estado a projetar. Esta é uma fase crítica, simultaneamente um desafio e uma oportunidade que temos para demonstrar as capacidades de Portugal na construção de instrumentação de alta precisão”. Cabral acrescenta que “esta é também uma nova oportunidade da indústria portuguesa receber um retorno pela participação de Portugal em grandes projetos de instrumentação. A contribuição portuguesa neste projeto deve ser aproveitada pelas nossas empresas que poderão fornecer as soluções técnicas necessárias para a construção do Coudé Train”. A colaboração portuguesa, financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, consistirá na construção do Coudé Train, um conjunto de lentes e prismas, e respetivos sistemas de alinhamento, responsável por levar a luz recolhida pelos telescópios do VLT até ao laboratório onde esta é combinada e analisada. Desta forma, o Coudé Train será um elemento fulcral do ESPRESSO, sendo fundamental que apresente uma elevada estabilidade e eficiência. “A componente tecnológica que estamos a desenvolver vai permitir transformar o VLT no primeiro telescópio com um espelho equivalente a 16-m de diâmetro. Este será, até à construção do E-ELT, o maior telescópio do mundo”, diz Nuno Santos. Notas:
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