5 março 2012
Foram anunciados no mês passado, na conferência “Astrophysics from the radio to submillimetre – Planck and other experiments in temperature and polarization”, em Bolonha (Itália), novos resultados da missão Planck. Entre as descobertas, apresentadas por astrónomos de vários países, que incluem a colaboradora do CAUP Graça Rocha (NASA/JPL, Caltech e membro da PSC) e o astrónomo do CAUP António da Silva, estão inúmeras zonas de gás frio até agora desconhecidas, e a primeira deteção inequívoca da misteriosa “Neblina Galáctica”. O objetivo principal da missão Planck é a observação da radiação cósmica de fundo (CMB) e das suas pequenas variações de densidade, que deram origem às estruturas cósmicas que hoje observamos por todo o Universo. No entanto, para ter a melhor imagem possível da CMB, primeiro é necessário usar complexas técnicas de análise de dados para remover, camada após camada, todas as fontes em primeiro plano, entre nós e a CMB. Mas, se para quem estuda a CMB todas essas fontes em primeiro plano são apenas “lixo” a ser retirado, para outros investigadores essas camadas são autênticos tesouros de nova informação. Jan Tauber, o Planck Project Scientist da Agência Espacial Europeia (ESA) comentou que: “A tarefa morosa e delicada de remover as fontes em primeiro plano dá-nos excelentes conjuntos de dados, que nos fornecem novos pontos de vista para vários tópicos de astronomia galáctica e extragaláctica”. Um dos resultados apresentados é o primeiro mapa de todo o céu da distribuição de monóxido de carbono (CO). Esta molécula é um dos constituintes das nuvens de gás frio onde nascem novas estrelas. Apesar das nebulosas serem compostas essencialmente por hidrogénio molecular (H2), este quase não emite radiação e por isso é de difícil deteção. Pelo contrário, o CO é muito menos abundante, mas é facilmente detetável pelo instrumento HFI, da missão Planck. Graças a este mapa foram descobertas inúmeras novas nebulosas, em especial em locais onde não se esperavam que estas existissem. A precisão do HFI permitiu ainda a deteção de nuvens de muito baixa densidade, além de revelar novos detalhes em algumas nebulosas conhecidas. O outro resultado apresentado durante a conferência foi a presença de uma “Neblina Galáctica”. Esta emissão difusa proveniente do centro da Via Láctea, e detetada na banda das micro-ondas, já tinha sido observada pelo satélite WMAP (NASA), mas este não tinha resolução suficiente para fazer uma identificação definitiva. A causa desta emissão permanece desconhecida. Notas |
1. Mapa do céu, com a distribuição de monóxido de carbono (ESA/Planck Collaboration) | 2. Mapa do céu, com a "neblina galáctica" (ESA/Planck Collaboration) |