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Centro de Astrofísica da Universidade do Porto
2 julho 2009

Das 60 luas conhecidas em redor de Saturno, a lua Encélado parece ser uma das mais interessantes. Tem sido alvo de diversas observações e estudos por parte de diversas equipas de investigadores, e os resultados agora revelados em 2 artigos publicados na revista Nature, parecem ser, à primeira vista, completamente diferentes.

Um dos artigos analisa dados obtidos pela sonda espacial Cassini (NASA/ESA). A Cassini descobriu, em 2005, colunas de gelo de água provenientes das fracturas existentes no pólo Sul da de Encélado. Estas colunas de matéria expelem pequenos grãos de gelo e vapor, que acabam por escapar para o anel E - o mais exterior do planeta Saturno.

O instrumento da Cassini Cosmic Dust Analyzer, examinou a composição destes grãos e detectou a presença de cloreto de sódio (o comum sal de mesa). “Acreditamos que este material ‘salgado’ vem do interior de Encélado, da erosão da rocha que existirá no fundo da camada de água”, afirma o investigador Frank Postberg do Instituto Max Planck para Física Nuclear (Heidelberg - Alemanha).

“Os dados obtidos sugerem que para além de conterem cloreto de sódio, os grãos contém carbonatos como o bicarbonato de sódio; ambos em concentrações que correspondem às composições esperadas para um possível oceano no interior de Encélado.”, afirma Postberg. “Os carbonatos também são responsáveis por um aumento no valor do pH. Se a fonte do líquido for um oceano, então, combinado este facto com a temperatura na superfície da lua na região do pólo Sul e os compostos orgânicos detectados nas colunas, podemos estar perante um ambiente com condições adequadas para a formação de precursores de vida.”

O outro artigo baseia-se em observações efectuadas no Observatório W.M. Keck (Hawaii, EUA). Estas observações parecem indicar que as colunas de gás e gelo que vemos irromper da lua, não são abastecidas por violentos géiseres vindos de um oceano salgado existente por baixo da superfície da lua. Esta conclusão deixou os cientistas incertos relativamente à natureza do interior de Encélado.

“Esperávamos que os dados mostrassem a presença de sódio.”, afirmou Mike Brown do Instituto de Tecnologia da Califórnia (EUA). Esta equipa de cientistas usou um Espectrómetro Echelle de Alta Resolução para analisar a luz solar reflectida por Encélado, e para surpresa dos astrónomos, nenhuma assinatura espectral foi detectada nos dados: a quantidade de sódio encontrada é 30 vezes menor do que era esperado.

No entanto, pensa-se que o vapor de água de as partículas de gelo detectadas nos jactos serão a fonte do anel E de Saturno. Os jactos e o sal do anel poderão então ter origem num muito mais profundo oceano de base salgada. Brown afirma que cavernas profundas poderão permitir uma evaporação lenta, o que justificaria a pouca quantidade de sódio - algo semelhante ao que acontece à água que evapora nos oceanos da Terra. O vapor de água poderá transformar-se num jacto, coluna, porque sairia por fracturas na superfície gelada da lua para o vácuo do espaço.

Embora este cenário seja possível, mas não é o único. As novas observações também podem significar que o vapor pouco rico em sal que escapa da lua provém da evaporação de um reservatório líquido ou da sublimação de gelo quente - ambos pouco ricos em sal. “Na realidade ainda percebemos a origem do gelo e das colunas e jactos de vapor, e como consequência como as partículas de sal seguem para o espaço”, acrescentou Brown.

Esta pequena lua é sem dúvida um mistério, e por isso continuará a ser observada a partir da Terra e pela sonda Cassini, que a voltará a visitar por duas vezes em Novembro de 2009.


Para mais informações

ESA
W.M. Keck Observatory
Nature

1. As plumas/colunas de matéria no pólo Sul de Encélado. (©NASA/JPL/Space Science Institute) 2. O terreno complexo de Encélado - crateras e fracturas (©NASA/JPL/Space Science Institute)